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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Agora

falo porque penso
ouço meu silêncio e canto
meu amor imenso
acenando o lenço no porto
sente dor mas não chora
sabe que o amor tem hora
pra chegar e pra partir

(Trecho de "Agora", Zeca Baleiro/1995)

sábado, 11 de dezembro de 2010

Caprichos e Relaxos

enxuga aí

vê se enxerga

essa lágrima
eu deixei cair

examina

examina bem

vê se não é
água da pedra
ouro da mina
essa gotadágua

minha
obra-prima

(Paulo Leminski)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Remorso


Às vezes uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando,
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude.

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!


(Olavo Bilac)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010


Himalaia, himeneu,
esse homem nu sou eu.
Olhos de contemplação.

Inca, maia, pigmeu,
minha tribo me perdeu
quando entrei no templo da paixão.



http://br.olhares.com/paraiso_foto3930852.html

sábado, 14 de agosto de 2010

Serenata

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

(Cecília Meireles)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Para Pensar

Existe apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma epoca da vida de cada pessoa em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia suficiente para os realizar apesar de todas as dificuldades e todos os obstáculos. Uma só idade para nos encantarmos com a vida para vivermos apaixonadamente e aproveitarmos tudo com toda a intensidade, sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que podemos criar e recriar a vida à nossa propria imagem e semelhança, vestirmo-nos de todas as cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos a todos os amores sem preconceitos nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que toda a disposição de tentar algo de novo e de novo quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se presente e tem a duração do instante que passa.

(Mario Quintana)

sábado, 10 de julho de 2010

Super Mulher

Olha, ela fala, ela canta, ela grita, ela zanza
Ela tem aquela transa
Que eu não digo com quem é
Ela tem o rebolado
Tem o corpo tatuado
De uma figa da Guiné

Ela tem uma coleção

De animais bem perigosos
De animais muito orgulhosos
Lá da Arca de Noé
Ela tem uma pantera
Que ela arrasta na coleira
Ela gosta dessa fera
Porque é grande feiticeira
E seduz os corações

Super-Mulher

Super-Mulher
Anticapa voadora
Domadora de Leões

(Ana Cañas)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Umbigo

O teu querido umbiguinho,
Doce ninho do meu beijo
Capital do meu desejo,
Em suas dobras misteriosas,
Ouço a voz da natureza
Num eco doce e profundo,
Não só o centro de um corpo,
Também o centro do mundo!

(Mario Quintana)

domingo, 4 de julho de 2010


Barato total

Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá

Quando a gente tá contente
Tanto faz o quente, tanto faz o frio, tanto faz
Que eu me esqueça do meu compromisso
Com isso ou aquilo que aconteceu dez minutos atrás
Dez minutos atrás de uma idéia já deu
Pra uma teia de aranha crescer e prender
Sua vida na cadeia do pensamento
Que de um momento pro outro começa a doer

Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá

Quando a gente tá contente
Gente é gente (gato é gato!)
Barata pode ser um barato total
Tudo que você disser deve fazer bem
Nada que você comer deve fazer mal
Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer, a gente quer
A gente quer, a gente quer é viver

(Gilberto Gil)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Mambembe

No palco, na praça, no circo, num banco de jardim
Correndo no escuro, pichado no muro
Você vai saber de mim
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte, cantando
Por baixo da terra, cantando
Na boca do povo, cantando

Mendigo, malandro, moleque, molambo, bem ou mal
Escravo fugido ou louco varrido
Vou fazer meu festival
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte, cantando
Por baixo da terra, cantando
Na boca do povo, cantando

Poeta, palhaço, pirata, corisco, errante judeu
Dormindo na estrada, não é nada, não é nada
E esse mundo é todo meu
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte, cantando
Por baixo da terra, cantando
Na boca do povo, cantando.

(Chico Buarque)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pensamento surrealista

Estranho recordar coisas que têm caráter bi. Às vezes elas nos remetem a um universo meio que encantado, cheio de recordações boas, gostosas, que dá vontade de sentir de novo! Parece que o tempo volta, que as pessoas voltam; as risadas, os beliscões, os tapas. Tudo novo de novo!
Mas as mesmas coisas boas, quando conversadas com as mesmas pessoas que parecem voltar, são de repente desrreconstruídas. É como se o sonho começasse a acabar, e o sonhador tivesse plena consciência de que está acordando. Seria bom se o sonho pudesse continuar ao acordar. Mas não é assim.

Quando você acorda, olha, fecha os olhos; olha de novo... tudo do mesmo jeito... O lençol, as sandálias, a cama... foi só um sonho! Um sonho de uma verdade desrreconstruída.

As coisas boas têm um poder peculiar: viram coisas estranhas de uma hora pra outra; e sempre teimam de fazer isso quando não há a menor necessidade.
Lá está o sonhador no seu mundo impenetrável, tentando não acordar daquela maravilha, e de repente, um monstro surge e deturpa a história! "Saia daqui!", implora o sonhador. Ele não sai.
Monstros são insistentes. E de novo você luta, se debate, se irrita, até chegar o fim. Ora, monstros são de sonhos, e sonhos acabam.

E então você acorda, olha, fecha os olhos; olha de novo... tudo do mesmo jeito... O lençol, as sandálias, a cama... foi só um sonho! Um sonho de uma verdade desrreconstruída.

(Danielle Urquiza)


Olha pro céu

Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha praquele balão multicor
Como no céu vai sumindo

Foi numa noite, igual a esta
Que tu me deste o teu coração
O céu estava, assim em festa
Pois era noite de São João

Havia balões no ar
Xote, baião no salão
E no terreiro
O teu olhar, que incendiou
Meu coração.

(Luiz Gonzaga / José Fernandes)

domingo, 13 de junho de 2010

Poeminha Sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

(Mario Quintana)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sereno amigo



Por trás da vidraça

Cá entre nós: fui eu quem sonhou que você sonhou comigo?
Ou teria sido o contrário?
Sonhei que você sonhava comigo. Mais tarde, talvez eu até ficasse confuso, sem saber ao certo se fui eu mesmo quem sonhou que você sonhava comigo, ou ao contrário, foi quem sabe você quem sonhou que eu sonhava com você. Não sei o que seria mais provável. Você sabe, nessa história de sonhos — falo o óbvio —, nunca há muita lógica nem coerência. Além disso, ainda que um de nós dois ou os dois tivéssemos realmente sonhado que um sonhava com o outro, também é pouco provável que falássemos sobre isso. Ou não? Sei que o que sei é que, sem nenhuma dúvida:
Sonhei que você sonhava comigo. Certo? Não, talvez não esteja nada certo. Também não era isso o que eu queria ou planejava dizer. Pelo menos, não desse jeito embaçado como uma vidraça durante a chuva. Por favor, apanhe aquele pequeno pedaço de feltro que fica sempre ali, ao lado dos discos. Agora limpe devagar a vidraça — quero dizer, o texto. Vá passando esse pedaço de feltro sobre o vidro, até ficar mais claro o que há por trás. Lago, edifício, montanha, outdoor, qualquer coisa. Certamente molhada, porque só quando chove as vidraças embaçam. Será? Não tenho certeza, mas o que quero dizer, disso estou certo, começa assim:
Sonhei que você sonhava comigo. Agora penso que é também provável que — se realmente fui mesmo eu a sonhar que você sonhou comigo; e não o contrário — eu não estivesse sonhando. Nada de sono, cama, olhos fechados. É possível que eu estivesse de olhos abertos no meio da rua, não na cama; durante o dia, não à noite — quando aconteceu isso que chamo de sonho. Embora saiba que — se foi dessa forma assim, digamos, consciente — então não seria correto chamá-la de sonho, essa imagem que aconteceu —, mas de imaginação ou invento até mesmo delírio, quem sabe alucinação. Mas não, não é isso o que quero contar, O que quero contar, sei muito bem e sem nenhuma hesitação, começa assim:
Sonhei que você sonhava comigo. Parece simples, mas me deixa inquieto. Cá entre nós, é um tanto atrevido supor a mim mesmo capaz de atravessar — mentalmente, dormindo ou acordado — todo esse espaço que nos separa e, de alguma forma que não compreendo, penetrar nessa região onde acontecem os seus sonhos para criar alguma situação onde, no fundo da sua mente, eu passasse a ter alguma espécie de existência. Não, não me atrevo. Então fico ainda mais confuso, porque também não sei se tudo isso não teria sido nem sonho, nem imaginação ou delírio, mas outra viagem chamada desejo. Verdade eu queria muito. Estou piorando as coisas, preciso ser mais claro. Começando de novo, quem sabe, começando agora:
Sonhei que você sonhava comigo. Depois que sonhei que você sonhava comigo, continuei sonhando que você acordava desse sonho de sonhar comigo — e era um sonho bonito, aquele —, está entendendo? Você acordava, eu não. Eu continuava sonhando, mas na continuação do meu sonho você tinha deixado de sonhar comigo. Você estava acordado, tentando adequar a imagem minha do sonho que você tinha acabado de sonhar à outra ou à soma de várias outras, que não sei se posso chamar de real, porque não foram sonhadas. Mas, se foi o contrário, então era eu, e não você, quem tentava essa adequação — nessa continuação de sonho em que ou eu ou você ou nós dois sonhamos um com o outro. Nos víamos? Quase consegui, agora. Preciso simplificar ainda mais, para começar de novo aqui:
Sonhei que você sonhava comigo. Depois, fiquei aflito. E quase certo de que isso não tinha acontecido. O que aconteceu, sim, é que foi você quem sonhou que eu sonhava com você. Mas não posso garantir nada. Sei que estou parado aqui, agora, pensando todas essas coisas. Como se estivesse — eu, não você — acordando um pouco assustado do bonito que foi ter tido aquele sonho em que você sonhava comigo. Tão breve. Mas tudo é muito longo, eu sei. Estou ficando cansativo? Cansado, também. Está bem, eu paro. Apanhe outra vez aquele pedaço de feltro: desembace, desembaço. Choveu demais, esfriou. Mas deve haver algum jeito exato de contar essa história que começa e não sei se termina ou continua assim:
Sonhei que você sonhava comigo. Ou foi o contrário? Seja como for, pouco importa: não me desperte, por favor, não te desperto.

O Estado de S. Paulo, 9/12/1987

[In: Pequenas Epifanias, Caio Fernando Abreu]

sábado, 29 de maio de 2010

Diálogo aluado

-" Quando um dia você quiser lembrar de mim,
é só olhar pra lua...
Olhar ela refletindo,
espelhando..."

- Tem um coelhinho lá! Já viu?!

- É, olhando bem, até que parece. Nunca tinha reparado nisso...

- Pois é. A playboy comprou a lua!

(Danielle Urquiza)

sábado, 22 de maio de 2010

Conselhos de um velho apaixonado

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o 1º e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino : O AMOR.
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.
Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...
Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado... Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...
Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua ida.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É o livre-arbítrio.
Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!
Ame muito.....muitíssimo...

(Carlos Drummond de Andrade)

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Oswaldo Montenegro)

sábado, 1 de maio de 2010

Stop!

E quando vão parar de me ver assim?

Eu quero arder,
pegar fogo,
explodir.

Incêndio de cheiro,
de amor,
de vontade

[ de ser desejada...

A flor de todo o mundo
quer desebrochar,
quer deixar de ser botão.

Quer ser rosa,
quer ser vermelha,
quer ser cintilante

[ e não mais fosca.

(Danielle Urquiza)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Our Love Will Melt



http://br.olhares.com/our_love_will_melt_foto2792760.html

O encontro dos corpos

E no silêncio da noite
Em nossa cama
Os nossos corpos
Se enlaçam sobre os lençóis
Manchados do mais puro amor.
Hoje eu não quero saber
Dos amores que tive,
nem dos momentos felizes
com outro alguém.
Quero ser tua,
Tua dona, tua mulher,
tua somente tua.
Hoje eu quero ser hoje
Saborear o nosso amor
E me entregar.
Fazer desse noite
um conto de fadas,
um conto erótico,
um conto, que conto,
reconto.
O reencontro dos amantes,
O encontro dos corpos,
No corpo da poesia.

Meu primeiro poema erótico.

(Gabriela Grisi)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

É assim que eu me sinto melhor!

Às vezes eu sinto uma vontade de... Sei lá!

Pegar minha bicicleta
[assim, com os pés ao ar livre mesmo
e pedalar até a praia,
levando meu violão nas costas...
[o velho e infalível companheiro!
E chegar na minha prainha...
[só minha...

"Onde o sol na tardinha se esconde,
onde a noite escura nem é,
onde o mar vem lavar o meu pé,
onde só não me sinto sozinha!"

Prainha minha...
Onde ninguém dá pitaco,
onde ninguém dá palpite!

E os que ousam violar tal condição
são repelidos,
pela lei inversa da atração,
da minha ilha...

Onde somente eu vejo os meus castelinhos.

(Danielle Urquiza)

sábado, 20 de março de 2010

domingo, 7 de março de 2010

Era você

Naquela rua
Movimentada
Meu corpo passa
Naquele beco
Naquela praça
Os meus pés

Descalços
Morenos
Parados
Marchando
Meus olhos pequenos
Pararam de amar

Naquela rua
Movimentada
Era você
Naquele beco
Naquela praça
Deixei de ser

Moleca
Morena
Bonita
Um sonho
Meus olhos
Meus planos
Deixaram de amar

Parei de amar
Se Deus quiser e me cuidar
Meu coração vai andar
Na paz que eu tanto quero

Parei de amar
Naquele caso era justo
Naquele amor tão sofrido
Amava com solidão

Moleca
Morena
Bonita
Um sonho
Meus olhos
Meus planos
Deixaram de amar

Meu lar
Meu coração
Meu doce corpo são

Minha voz
Sem nó
Minha luz

Nenhuma armadilha dessa estrada vai me fazer sofrer

(Vanessa da Mata)

sábado, 6 de março de 2010

Tatuagem


Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é prá te dar coragem
Prá seguir viagem
Quando a noite vem...

E também prá me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...

Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...

E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...

Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...

Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...

Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...

(Chico Buarque e Ruy Guerra)

domingo, 21 de fevereiro de 2010



The truth will cum to those who wait…

Todo Carnaval Tem Seu Fim


Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo

Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz!

Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz!

(Marcelo Camelo - Los Hermanos)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mensagem de amor


Os livros na estante já não tem mais
tanta importância
Do muito que eu li
Do pouco que eu sei
Nada me resta

A não ser a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei
Nem que seja só para estar
ao seu lado

Só pra ler
no seu rosto

Uma mensagem de amor

À noite eu me deito
Então escuto a mensagem no ar
Vagando entre os astros
Nada me move
Nem me faz parar

A não ser a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei
Nem que seja só para estar
ao seu lado

Só pra ler
no seu rosto

Uma mensagem de amor.

(Herbert Viana; Versão Lucas Santana)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Crônicas de beira mar

Andando na praia tanta coisa acontece, às vezes elas parecem ser um quadro pintado por um artista de calçada, já em outras parecem ser uma ironia do grande Buarque, ou quem sabe lembram um simples verdendor de rosas exercendo o seu ofício.
Fosse Luiz F. Veríssimo escreveria sobre as velinhas modernas, que nem se sentem tão assim, mas que andam com seus biquinis não muy apropriados, com suas cangas um pouco transparentes e não dão a mínima!
Fosse Caio F. Abreu falaria sobre o mundo encantado dos enamorados, sobre as histórias dos que ficam a pensar, a se debater, a sonhar. Falaria dos velhinhos meigos, senhorzinhos e senhorinhas, andando de mãos dadas, como se ainda fossem um casal de adolescentes.
Fosse Fernanda Young falaria daqueles brigam, daquelas que se ensinuam, daqueles que sofrem, que são fortes, que amam, que arriscam, que se entregam! Daquelas mulheres com olhos de ressaca, ou daqueles que realmente amanhecem o dia, na praia, de ressaca!
Talvez os três falassem dos hippies que ficam ali, meio sem nada, meio com tudo!
Sendo assim, ou melhor, não sendo assim: nem Veríssimo, nem Abreu, nem Young, acho que não falaria de nada. Ficaria sentada, sentindo o mar, o vento... Tentando imaginar o que cada um deles pensaria, diria, e quem sabe até... escreveria.

(Danielle Urquiza)

Eu e você, você e eu

Eu preciso de.
Você de mim
precisa,
Leia na minha camisa,
baby I love you.
O mundo
é
pequeno
pra caramba.

Um dia
ainda
será
você
e
eu.

A sós
Juntinhos
Lado a lado.

Tim Maia
escreveu
Eu e você, você e eu.

(Gabriella Grisi)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sabe qual é o meu sonho secreto?
Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor minha companhia. Que um dia imagine o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado, mesmo quando eu estava gripada. No entanto, sei que você está a cada dia que passa mais fugidio e eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir nesse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita, sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. Nunca precisei aborrecer ninguém antes, então, atuo por instinto, cansando-me facilmente e que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-te porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude.

(Fernanda Young)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa.

(Caio Fernando Abreu)

Ciranda Praieira


DE TODA TERRA EM QUE ANDA
O MAR SÓ DANÇA CIRANDA
NA ILHA DE ITAMARACÁ

E QUANDO O MAR CIRANDEIA
EU CIRANDEIO NA AREIA
EU CIRANDEIO NO MAR

ACHEI NA PRAIA UM MARISCO
COM A LETRA DO NOME DELA
DO LADO EU FIZ UM RABISCO
BOTANDO A MINHA CHANCELA

TIREI DA PALHOÇA UMA PALHA
FIZ UM CORDÃO DE PALMEIRA
FIZ DO MARISCO A MEDALHA
PRO COLO DA CIRANDEIRA

ENTREI NA RODA DA SORTE
BRINQUEI DE RODA COM ELA
A MOÇA É DE CASA FORTE
EU SOU DE CASA AMARELA

MAS FOI NA CASA DE LIA
NUMA CIRANDA PRAIEIRA
QUE EU VI MINHA ESTRELA-GUIA
NOS OLHOS DA CIRANDEIRA

(Lenine / Paulo César Pinheiro)

A onda mãe

Eu não sei por que as ondas são assim
Assim turvas,
Assim fortes.
Eu não entendo por que machucam tanto.

Aprendi que as ondas deveriam ser bonitas
Que nós deveríamos amá-las
Mas às vezes é tão duro,
Tão difícil...

Em um mar totalmente desconhecido
As ondas mudam de cor,
De forma,
De jeito.

Vão-se embora as mais belas
Ficam as cinzas, as negras, as sem cor.

E enquanto isso
Sempre há alguém na praia

Olhando pro infinito que se perde...

E esperando.

(Danielle Urquiza)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

(Carlos Drummond de Andrade)

Inconfesso Desejo

Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Reflexos e Reflexões


Diga aí amigo...
Como vai você?
Estou aqui contigo
Você também me vê

Às vezes sou seu clone
E você é o meu
Não temos o mesmo nome
Mas nossa vida se perdeu

Em encontros e desencontros
Do mesmo sopro
Que atravessa eu e você
Se estou contigo
É porque estás comigo
E nós não podemos nos perder

(Paulinho Moska)


Foto: Danielle Urquiza (Durante Show)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Dante's prayer

When the dark wood fell before me
And all the paths were overgrown
When the priests of pride say there is no other way
I tilled the sorrows of stone

I did not believe because I could not see
Though you came to me in the night
When the dawn seemed forever lost
You showed me your love in the light of the stars

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me

Then the mountain rose before me
By the deep well of desire
From the fountain of forgiveness
Beyond the ice and fire

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me

Though we share this humble path, alone
How fragile is the heart
Oh give these clay feet wings to fly
To touch the face of the stars

Breathe life into this feeble heart
Lift this mortal veil of fear
Take these crumbled hopes, etched with tears
We'll rise above these earthly cares

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me
Please remember me

Loreena McKennitt

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sem Budismo

Poema que é bom
acaba zero a zero.
Acaba com.
Não como eu quero.
Começa sem.
Com, digamos, certo verso,
veneno de letra,
bolero. Ou menos.
Tira daqui, bota dali,
um lugar, não caminho.
Prossegue de si.
Seguro morreu de velho,
e sozinho.

(Paulo Leminski, In: Distraídos Venceremos)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

No ano passado


No ano passado...
Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraordinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte:

"Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".

Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos...

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado.
Morri? Não. Ressuscitei.

Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.

(Mario Quintana)

Simultaneidade

- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

(Mario Quintana)

Uma história de fadas

Era uma vez o País das Fadas. Ninguém sabia direito onde ficava, e muita gente (a maioria) até duvidava que ficasse em algum lugar. Mesmo quem não duvidava (e eram poucos) também não tinha a menor idéia de como fazer para chegar lá. Mas, entre esses poucos, corria a certeza que, se quisesse mesmo chegar lá, você dava um jeito e acabava chegando. Só uma coisa era fundamental (e dificílima): acreditar.
Era uma vez, também, nesse tempo (que nem tempo antigo, era, não; era tempo de agora, que nem o nosso), um homem que acreditava. Um homem comum, que lia jornais, via TV (e sentia medo, que nem a gente), era despedido, ficava duro (que nem a gente), tentava amar, não dava certo (que nem a gente). Em tudo, o homem era assim que nem a gente. Com aquela diferença enorme: era um homem que acreditava. Nada no bolso ou nas mãos, um dia ele resolveu sair em busca do País das Fadas. E saiu.
Aconteceram milhares de coisas que não tem espaço aqui pra contar. Coisas duras, tristes, perigosas, assustadoras, O homem seguia sempre em frente. Meio de saia-justa, porque tinham dito pra ele (uns amigos najas) que mesmo chegando ao País das Fadas elas podiam simplesmente não gostar dele. E continuar invisíveis (o que era o de menos), ou até fazer maldades horríveis com o pobre. Assustado, inseguro, sozinho, cada vez mais faminto e triste, o homem que acreditava continuava caminhando. Chorava às vezes, rezava sempre. Pensava em fadas o tempo todo. E sem ninguém saber, em segredo, cada vez mais: acreditava, acreditava.
Um dia, chegou à beira de um rio lamacento e furioso, de nenhuma beleza. Alguma coisa dentro dele disse que do outro lado daquele rio ficava o País das Fadas. Ele acreditou. Procurou inutilmente um barco, não havia: o único jeito era atravessar o rio a nado. Ele não era nenhum atleta (ao contrário), mas atravessou. Chegou à outra margem exausto, mas viu uma estradinha boba e sentiu que era por ali. Também acreditou. E foi caminhando pela estradinha boba, em direção àquilo em que acreditava.
Então parou. Tão cansado estava, sentou numa pedra. E era tão bonito lá que pensou em descansar um pouco, coitado. Sem querer, dormiu. Quando abriu os olhos — quem estava pousada na pedra ao lado dele? Uma fada, é claro. Uma fadinha mínima assim do tamanho de um dedo mindinho, com asinhas transparentes e tudo a que as fadinhas têm direito. Muito encabulado, ele quis explicar que não tinha trazido quase nada e foi tirando dos bolsos tudo que lhe restava: farelos de pão, restos de papel, moedinhas. Morto de vergonha, colocou aquela miséria ao lado da fadinha.
De repente, uma porção de outras fadinhas e fadinhos (eles também existem) despencaram de todos os lados sobre os pobres presentes do homem que acreditava. Espantado, ele percebeu que todos estavam gostando muito: riam sem parar, jogavam farelos uns nos outros, rolavam as moedinhas, na maior zona. Ao toquezinho deles, tudo virava ouro. Depois de brincarem um tempão, falaram pra ele que tinham adorado os presentes. E, em troca, iam ensinar um caminho de volta bem fácil. Que podia voltar quando quisesse por aquele caminho de volta (que era também de ida) fácil, seguro, rápido. Além do mais, podia trazer junto outra pessoa: teriam muito prazer em receber alguém de que o homem que acreditava gostasse.
Era comum, que nem a gente. A única diferença é que ele era um Homem Que Acreditava.
De repente, o homem estava num barco que deslizava sob colunas enormes, esculpidas em pedras. Lindas colunas cheias de formas sobre o rio manso como um tapete mágico onde ia o barquinho no qual ele estava. Algumas fadinhas esvoaçavam em volta, brincando. Era tudo tão gostoso que ele dormiu. E acordou no mesmo lugar (o seu quarto) de onde tinha saído um dia. Era de manhã bem cedo. O homem que acreditava abriu todas as janelas para o dia azul brilhante. Respirou fundo, sorriu. Ficou pensando em quem poderia convidar para ir com ele ao País das Fadas. Alguém de que gostasse muito e também acreditasse. Sorriu ainda mais quando, sem esforço, lembrou de uma porção de gente. Esse convite agora está sempre nos olhos dele: quem acredita sabe encontrar. Não garanto que foi feliz para sempre, mas o sorriso dele era lindo quando pensou todas essas coisas — ah, disso eu não tenho a menor dúvida. E você?

O Estado de São Paulo 30/11/1988
(In: Pequenas Epifanias, Caio Fernando Abreu)

Poema

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás!

(Cazuza / Frejat)