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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mensagem de amor


Os livros na estante já não tem mais
tanta importância
Do muito que eu li
Do pouco que eu sei
Nada me resta

A não ser a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei
Nem que seja só para estar
ao seu lado

Só pra ler
no seu rosto

Uma mensagem de amor

À noite eu me deito
Então escuto a mensagem no ar
Vagando entre os astros
Nada me move
Nem me faz parar

A não ser a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei
Nem que seja só para estar
ao seu lado

Só pra ler
no seu rosto

Uma mensagem de amor.

(Herbert Viana; Versão Lucas Santana)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Crônicas de beira mar

Andando na praia tanta coisa acontece, às vezes elas parecem ser um quadro pintado por um artista de calçada, já em outras parecem ser uma ironia do grande Buarque, ou quem sabe lembram um simples verdendor de rosas exercendo o seu ofício.
Fosse Luiz F. Veríssimo escreveria sobre as velinhas modernas, que nem se sentem tão assim, mas que andam com seus biquinis não muy apropriados, com suas cangas um pouco transparentes e não dão a mínima!
Fosse Caio F. Abreu falaria sobre o mundo encantado dos enamorados, sobre as histórias dos que ficam a pensar, a se debater, a sonhar. Falaria dos velhinhos meigos, senhorzinhos e senhorinhas, andando de mãos dadas, como se ainda fossem um casal de adolescentes.
Fosse Fernanda Young falaria daqueles brigam, daquelas que se ensinuam, daqueles que sofrem, que são fortes, que amam, que arriscam, que se entregam! Daquelas mulheres com olhos de ressaca, ou daqueles que realmente amanhecem o dia, na praia, de ressaca!
Talvez os três falassem dos hippies que ficam ali, meio sem nada, meio com tudo!
Sendo assim, ou melhor, não sendo assim: nem Veríssimo, nem Abreu, nem Young, acho que não falaria de nada. Ficaria sentada, sentindo o mar, o vento... Tentando imaginar o que cada um deles pensaria, diria, e quem sabe até... escreveria.

(Danielle Urquiza)

Eu e você, você e eu

Eu preciso de.
Você de mim
precisa,
Leia na minha camisa,
baby I love you.
O mundo
é
pequeno
pra caramba.

Um dia
ainda
será
você
e
eu.

A sós
Juntinhos
Lado a lado.

Tim Maia
escreveu
Eu e você, você e eu.

(Gabriella Grisi)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sabe qual é o meu sonho secreto?
Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor minha companhia. Que um dia imagine o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado, mesmo quando eu estava gripada. No entanto, sei que você está a cada dia que passa mais fugidio e eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir nesse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita, sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. Nunca precisei aborrecer ninguém antes, então, atuo por instinto, cansando-me facilmente e que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-te porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude.

(Fernanda Young)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa.

(Caio Fernando Abreu)

Ciranda Praieira


DE TODA TERRA EM QUE ANDA
O MAR SÓ DANÇA CIRANDA
NA ILHA DE ITAMARACÁ

E QUANDO O MAR CIRANDEIA
EU CIRANDEIO NA AREIA
EU CIRANDEIO NO MAR

ACHEI NA PRAIA UM MARISCO
COM A LETRA DO NOME DELA
DO LADO EU FIZ UM RABISCO
BOTANDO A MINHA CHANCELA

TIREI DA PALHOÇA UMA PALHA
FIZ UM CORDÃO DE PALMEIRA
FIZ DO MARISCO A MEDALHA
PRO COLO DA CIRANDEIRA

ENTREI NA RODA DA SORTE
BRINQUEI DE RODA COM ELA
A MOÇA É DE CASA FORTE
EU SOU DE CASA AMARELA

MAS FOI NA CASA DE LIA
NUMA CIRANDA PRAIEIRA
QUE EU VI MINHA ESTRELA-GUIA
NOS OLHOS DA CIRANDEIRA

(Lenine / Paulo César Pinheiro)

A onda mãe

Eu não sei por que as ondas são assim
Assim turvas,
Assim fortes.
Eu não entendo por que machucam tanto.

Aprendi que as ondas deveriam ser bonitas
Que nós deveríamos amá-las
Mas às vezes é tão duro,
Tão difícil...

Em um mar totalmente desconhecido
As ondas mudam de cor,
De forma,
De jeito.

Vão-se embora as mais belas
Ficam as cinzas, as negras, as sem cor.

E enquanto isso
Sempre há alguém na praia

Olhando pro infinito que se perde...

E esperando.

(Danielle Urquiza)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

(Carlos Drummond de Andrade)

Inconfesso Desejo

Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Reflexos e Reflexões


Diga aí amigo...
Como vai você?
Estou aqui contigo
Você também me vê

Às vezes sou seu clone
E você é o meu
Não temos o mesmo nome
Mas nossa vida se perdeu

Em encontros e desencontros
Do mesmo sopro
Que atravessa eu e você
Se estou contigo
É porque estás comigo
E nós não podemos nos perder

(Paulinho Moska)


Foto: Danielle Urquiza (Durante Show)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Dante's prayer

When the dark wood fell before me
And all the paths were overgrown
When the priests of pride say there is no other way
I tilled the sorrows of stone

I did not believe because I could not see
Though you came to me in the night
When the dawn seemed forever lost
You showed me your love in the light of the stars

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me

Then the mountain rose before me
By the deep well of desire
From the fountain of forgiveness
Beyond the ice and fire

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me

Though we share this humble path, alone
How fragile is the heart
Oh give these clay feet wings to fly
To touch the face of the stars

Breathe life into this feeble heart
Lift this mortal veil of fear
Take these crumbled hopes, etched with tears
We'll rise above these earthly cares

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me
Please remember me

Loreena McKennitt

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sem Budismo

Poema que é bom
acaba zero a zero.
Acaba com.
Não como eu quero.
Começa sem.
Com, digamos, certo verso,
veneno de letra,
bolero. Ou menos.
Tira daqui, bota dali,
um lugar, não caminho.
Prossegue de si.
Seguro morreu de velho,
e sozinho.

(Paulo Leminski, In: Distraídos Venceremos)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

No ano passado


No ano passado...
Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraordinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte:

"Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".

Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos...

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado.
Morri? Não. Ressuscitei.

Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.

(Mario Quintana)

Simultaneidade

- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

(Mario Quintana)

Uma história de fadas

Era uma vez o País das Fadas. Ninguém sabia direito onde ficava, e muita gente (a maioria) até duvidava que ficasse em algum lugar. Mesmo quem não duvidava (e eram poucos) também não tinha a menor idéia de como fazer para chegar lá. Mas, entre esses poucos, corria a certeza que, se quisesse mesmo chegar lá, você dava um jeito e acabava chegando. Só uma coisa era fundamental (e dificílima): acreditar.
Era uma vez, também, nesse tempo (que nem tempo antigo, era, não; era tempo de agora, que nem o nosso), um homem que acreditava. Um homem comum, que lia jornais, via TV (e sentia medo, que nem a gente), era despedido, ficava duro (que nem a gente), tentava amar, não dava certo (que nem a gente). Em tudo, o homem era assim que nem a gente. Com aquela diferença enorme: era um homem que acreditava. Nada no bolso ou nas mãos, um dia ele resolveu sair em busca do País das Fadas. E saiu.
Aconteceram milhares de coisas que não tem espaço aqui pra contar. Coisas duras, tristes, perigosas, assustadoras, O homem seguia sempre em frente. Meio de saia-justa, porque tinham dito pra ele (uns amigos najas) que mesmo chegando ao País das Fadas elas podiam simplesmente não gostar dele. E continuar invisíveis (o que era o de menos), ou até fazer maldades horríveis com o pobre. Assustado, inseguro, sozinho, cada vez mais faminto e triste, o homem que acreditava continuava caminhando. Chorava às vezes, rezava sempre. Pensava em fadas o tempo todo. E sem ninguém saber, em segredo, cada vez mais: acreditava, acreditava.
Um dia, chegou à beira de um rio lamacento e furioso, de nenhuma beleza. Alguma coisa dentro dele disse que do outro lado daquele rio ficava o País das Fadas. Ele acreditou. Procurou inutilmente um barco, não havia: o único jeito era atravessar o rio a nado. Ele não era nenhum atleta (ao contrário), mas atravessou. Chegou à outra margem exausto, mas viu uma estradinha boba e sentiu que era por ali. Também acreditou. E foi caminhando pela estradinha boba, em direção àquilo em que acreditava.
Então parou. Tão cansado estava, sentou numa pedra. E era tão bonito lá que pensou em descansar um pouco, coitado. Sem querer, dormiu. Quando abriu os olhos — quem estava pousada na pedra ao lado dele? Uma fada, é claro. Uma fadinha mínima assim do tamanho de um dedo mindinho, com asinhas transparentes e tudo a que as fadinhas têm direito. Muito encabulado, ele quis explicar que não tinha trazido quase nada e foi tirando dos bolsos tudo que lhe restava: farelos de pão, restos de papel, moedinhas. Morto de vergonha, colocou aquela miséria ao lado da fadinha.
De repente, uma porção de outras fadinhas e fadinhos (eles também existem) despencaram de todos os lados sobre os pobres presentes do homem que acreditava. Espantado, ele percebeu que todos estavam gostando muito: riam sem parar, jogavam farelos uns nos outros, rolavam as moedinhas, na maior zona. Ao toquezinho deles, tudo virava ouro. Depois de brincarem um tempão, falaram pra ele que tinham adorado os presentes. E, em troca, iam ensinar um caminho de volta bem fácil. Que podia voltar quando quisesse por aquele caminho de volta (que era também de ida) fácil, seguro, rápido. Além do mais, podia trazer junto outra pessoa: teriam muito prazer em receber alguém de que o homem que acreditava gostasse.
Era comum, que nem a gente. A única diferença é que ele era um Homem Que Acreditava.
De repente, o homem estava num barco que deslizava sob colunas enormes, esculpidas em pedras. Lindas colunas cheias de formas sobre o rio manso como um tapete mágico onde ia o barquinho no qual ele estava. Algumas fadinhas esvoaçavam em volta, brincando. Era tudo tão gostoso que ele dormiu. E acordou no mesmo lugar (o seu quarto) de onde tinha saído um dia. Era de manhã bem cedo. O homem que acreditava abriu todas as janelas para o dia azul brilhante. Respirou fundo, sorriu. Ficou pensando em quem poderia convidar para ir com ele ao País das Fadas. Alguém de que gostasse muito e também acreditasse. Sorriu ainda mais quando, sem esforço, lembrou de uma porção de gente. Esse convite agora está sempre nos olhos dele: quem acredita sabe encontrar. Não garanto que foi feliz para sempre, mas o sorriso dele era lindo quando pensou todas essas coisas — ah, disso eu não tenho a menor dúvida. E você?

O Estado de São Paulo 30/11/1988
(In: Pequenas Epifanias, Caio Fernando Abreu)

Poema

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás!

(Cazuza / Frejat)