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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Mambembe

No palco, na praça, no circo, num banco de jardim
Correndo no escuro, pichado no muro
Você vai saber de mim
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte, cantando
Por baixo da terra, cantando
Na boca do povo, cantando

Mendigo, malandro, moleque, molambo, bem ou mal
Escravo fugido ou louco varrido
Vou fazer meu festival
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte, cantando
Por baixo da terra, cantando
Na boca do povo, cantando

Poeta, palhaço, pirata, corisco, errante judeu
Dormindo na estrada, não é nada, não é nada
E esse mundo é todo meu
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte, cantando
Por baixo da terra, cantando
Na boca do povo, cantando.

(Chico Buarque)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pensamento surrealista

Estranho recordar coisas que têm caráter bi. Às vezes elas nos remetem a um universo meio que encantado, cheio de recordações boas, gostosas, que dá vontade de sentir de novo! Parece que o tempo volta, que as pessoas voltam; as risadas, os beliscões, os tapas. Tudo novo de novo!
Mas as mesmas coisas boas, quando conversadas com as mesmas pessoas que parecem voltar, são de repente desrreconstruídas. É como se o sonho começasse a acabar, e o sonhador tivesse plena consciência de que está acordando. Seria bom se o sonho pudesse continuar ao acordar. Mas não é assim.

Quando você acorda, olha, fecha os olhos; olha de novo... tudo do mesmo jeito... O lençol, as sandálias, a cama... foi só um sonho! Um sonho de uma verdade desrreconstruída.

As coisas boas têm um poder peculiar: viram coisas estranhas de uma hora pra outra; e sempre teimam de fazer isso quando não há a menor necessidade.
Lá está o sonhador no seu mundo impenetrável, tentando não acordar daquela maravilha, e de repente, um monstro surge e deturpa a história! "Saia daqui!", implora o sonhador. Ele não sai.
Monstros são insistentes. E de novo você luta, se debate, se irrita, até chegar o fim. Ora, monstros são de sonhos, e sonhos acabam.

E então você acorda, olha, fecha os olhos; olha de novo... tudo do mesmo jeito... O lençol, as sandálias, a cama... foi só um sonho! Um sonho de uma verdade desrreconstruída.

(Danielle Urquiza)


Olha pro céu

Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha praquele balão multicor
Como no céu vai sumindo

Foi numa noite, igual a esta
Que tu me deste o teu coração
O céu estava, assim em festa
Pois era noite de São João

Havia balões no ar
Xote, baião no salão
E no terreiro
O teu olhar, que incendiou
Meu coração.

(Luiz Gonzaga / José Fernandes)

domingo, 13 de junho de 2010

Poeminha Sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

(Mario Quintana)